terça-feira, 21 de julho de 2009

Venda de DVD´s

Santo Agostinho

Mea culpa
Mea maxima culpa!

Creio porque é absurdo!Santo Agostinho
Uma da mais contundentes personalidades da filosofia Cristã é Santo Agostinho. Filho de mãe cristã (Santa Mônica) e de pai relutante às idéias do Nazareno, este filho do século IV d.c. levou uma vida muito intrépida. Fez sua educação literária em Milão, embora Roma e Cártago hajam presenciado algumas dissipações de sua juventude. O pensamento platônico o fascinou desde cedo, e isto não passou desapercebido para o futuro bispo de Hipona. Precursor do humanístico pensamento do renascimento, propõe a conciliação entre a ética greco-latina e a mensagem dos evangelhos. O "De Civitate Dei" (Cidade de Deus) e "Confessiones" (Confissões) são suas mais conhecidas obras.Emergindo de profundos conflitos emocionais característicos de sua infância, Agostinho vê-se atormentado quando após a morte de sua mãe, busca sua conversão ao Cristianismo. Educado na filosofia de Aristóteles e Platão, o jovem de Tagaste encontra-se em um abismo cultural e intelectual: como conciliar o pensamento Helênico e o Cristão? Como aceitar a arte dos gregos se eram politeístas? Qual a raiz de seus conflitos, se tais artes entre as quais a Astrologia pareciam funcionar tão bem?

Os Vaticínios dos Astrólogos

No texto de confissões, Agostinho confessa que praticava a Astrologia. Vamos à alguns trechos da tradução de Ambrósio de Pina(1990):

Agostinho como precursor da Astrologia empresarial. Suas dúvidas quando a arte da Astrologia.(Confissões)

"Este homem chamado Firmino , que tinha sido educado nas artes liberais (1) e instruído na eloquência, consultou-me um dia, como a amigo muito íntimo, a respeito de uns negócios em que tinha grandes esperanças. Perguntou qual fosse o meu vaticínio, "segundo sua estrela", como eles dizem. Porém, eu que já então neste assunto começava a deixar dobrar pelas questões de Nebrídio, não me recusei a expor-lhe meus prognósticos e o que me ocorrera, acrescentando contudo que estava já quase persuadido de que tudo aquilo era falso e quimérico."Este trecho evidencia a prática da Astrologia pelo Santo. Entretanto, sua consultoria estava carregada de dúvidas. Quanto ao vatícinio de santo Agostinho nunca o saberemos. Por ser consultado pelo culto amigo, Agostinho obviamente possuía conhecimentos sólidos de Astrologia e Astronomia, já que naquela época, não existia nem Canopus nem Vega e muito menos o SolarFire.Só Deus pode ter o conhecimento do futuro Nenhuma arte existiria para prevê-lo.(Confissões)

"Também já tinha rejeitado as enganadoras predições e os ímpios delírios dos Astrólogos . Ainda nisto meu Deus, Vos quero confessar as vossas misericórdias, desde as fibras mais secretas da minha alma !".

"O primeiro (o amigo Vindiciano) dizia-me com toda a veemência e o segundo freqüentemente (outro amigo: Nebrídio) - ainda que com certa hesitação - que nenhuma arte existia para prever o futuro; que as conjecturas eram fundadas no acaso, e que, por jogo de palavras, se vaticinavam muitas coisas; que aqueles mesmos que as diziam ignoravam se haviam de realizar, acertando nelas somente porque as não calaram".

Nesta passagem, Agostinho influenciado por dois amigos, confessa a Deus seu erro: a prática da Astrologia. Segundo sua visão, a arte de prever o futuro era falsa, e com ela a Astrologia. Somente Deus possuiria tal habilidade. A capacidade por exemplo de antever a uma futura doença pela medicina ou qualquer outra arte torna-se difícil de conciliar. Quais os limites do que se pode prever sem o conflito com a sabedoria de Deus?"Poderão ainda dizer que as estrelas indicam mas não realizam acontecimentos. É como se a sua posição fosse uma linguagem de predizer o futuro (foi de fato o parecer de homens não mediocremente doutos). Não é assim que os astrólogos costumam falar. Não dizem, por exemplo: -Esta posição de marte anuncia um homicida- mas -faz um homicida. Concedamos, porém, que eles não falam como devem e que deviam tomar dos filósofos a sua maneira de falar para anunciar os acontecimentos que julgam descobrir na posição dos astros.

"O segmento é inequívoco : Agostinho bate de frente com o problema "o que torna uma pessoa um homicida?" Isto não pode vir de Deus nem dos astros, e muito menos de um distúrbio no Complexo Reptiliano de Eccles. Isto abalaria toda a doutrina Romana-cristã que estava em vias de ser instituída. Para isto, seria necessário expulsar toda espécie de interferência. Ele alerta, entretanto, quase insinuando que se os astrólogos tratassem os efeitos como interferências do mundo natural, ele até talvez pudesse rever a sua posição. Sua formação clássica o ajudou a fazer interessantes reflexões, a despeito de sua fé maior que qualquer outra coisa. É correto, entretanto, o fato de muitos astrólogos da época não falarem a língua dos filósofos. Isto não mudou muito desde o século IV.Agostinho admite o efeito astrológico e sideral na natureza.

Os seres sem espírito podem sofrer o efeito dos astros.(Cidade de Deus cap. VII - livro V)

"Não é absolutamente absurdo admitir que mudanças, mas apenas quando a diferenças do corpo, sejam devidas à influência sideral: vemos assim que o Sol pela sua aproximação ou afastamento provoca as estações do ano; a Lua, conforme vai para a crescente ou minguante, assim faz crescer ou minguar certas categorias de seres, tais como ouriços do mar e as conchas, e ainda as maravilhosas marés do oceano".

Este segmento transparece seu pensamento de cientista natural. Apesar das justificativas apresentadas à causa das estações do ano estarem equivocadas, isto é conhecimento de Alexandrino. A exclusão do homem sob o efeito dos astros é antes a maneira mais eficiente de resolver aparentemente a questão da "moral como um fenômeno do homem" e não da natureza. Se Agostinho estiver certo e se nossos estudos como astrólogos não forem equivocados, a convivência destas duas teses fará com que nosso parentesco com algas e mexilhões seja mais estreito do que imaginamos.Astrólogos são inspirados por demônios.Tal arte não existe.(Cidade de Deus cap VII - livro V)

"Bem consideradas todas estas coisas, há motivos para crer que, se os astrólogos dão tantas respostas surpreendentemente verdadeiras, isso se deve a oculta inspiração de maus espíritos que põe todo o cuidado em infundir nos espíritos humanos essas e nocivas opiniões acerca das fatalidades astrais, e de forma nenhuma à arte de examinar os horóscopos:- Tal arte não existe".Ao fim do capítulo VII , Agostinho admite que os astrólogos dão respostas corretas e até surpreendentes. Como justificá-la?

A resposta estaria na ação oculta de espíritos. Teríamos que admitir duas coisas: Demônios são inteligentes o suficiente para serem bons na arte da astrologia e desocupados o bastante para o fazê-lo apenas com a finalidade de infundir conceitos contrários à opinião do filósofo.Longe de pretender esgotar o assunto, este ensaio pretende estimular o leitor a pensar por que caminhos andou a Astrologia. As críticas de Agostinho à Astrologia parecem associar-se mais ao problema do destino e da moral que ao seu sentido em si. Isto lhe roubou muitas noites de sono. Seus clássicos argumentos sobre a questão dos Gêmeos em Astrologia serão desenvolvidos em outro capítulo.Agostinho tinha uma missão: a de trazer o cristianismo como modelo de sociedade. O humanismo que inspirou as artes e o pensamento renascentista possuem muito de sua base. Talvez São Thomas tenha conseguido um melhor resultado nesta interface entre o mundo Greco-Helênico e o mundo do Jesus-Romano. Ele foi um exemplo de fé, e a colocou sobre todas as coisas. Talvez tenha sido esta sua maior virtude e sua maior condenação.

"Vós, porém, Senhor - justíssimo organizador de tudo - por meio de um secreto instinto, desconhecido dos consulentes e dos Astrólogos, fazeis que cada qual, enquanto consulta, ouça o que lhe convenha ouvir, segundo os merecimentos ocultos da sua alma e segundo os abismos dos vossos incorruptíveis juízos. Que nenhum se atreva a perguntar-Vos : "-Que é isto? para que é isto?" Não vo-lo pergunte, porque é um simples homem."
Santo Agostinho / Confissões .

Notas:(1) Artes Liberais. Artes necessárias ao pleno saber no período medieval. São: A retórica, a dialética, a gramática conhecidas como trivium. A astronomia/Astrologia, a Aritmética a Geometria.

Livros Antigos: Afinal, o que se pode-se aprender com eles ?

A Astrologia é uma Ciência de oito mil anos segundo o historiador Alexander Gurshtein ( 1 ) , que datou o primeiro Zodíaco sistematizado já em doze signos à seis mil antes de Cristo, de origem Suméria.Nada mais interessante imaginar que Astrologia possua em torno de uns duzentos e cinqüenta pais históricos, ( pelos meus registros ) contando-se apenas dos helênicos para cá. Isto pode significar que para a obtenção de uma construção coerente do pensamento Astrológico desde suas origens até hoje, ao menos uns cinqüenta títulos básicos são de leitura obrigatória . Análogo aos estudos de filosofia, onde o pensador não pode deixar de tomar contato com as obras de Aristóteles e Platão, que estão à dois mil e quatrocentos anos da presente data, o Astrólogo que estuda apenas autores contemporâneos eqüivale a um filósofo que só estudou Carl Popper. ( Nenhum menosprezo a autores contemporâneos, ou à Popper que considero um grande pensador. ) Pelo que entendo, o “ Astrologia Racional “ do Dr. Adolfo Weiss já virou um clássico e o autor é do nosso século.

As obras antigas estão sendo esquecidas ?Não se trata de apologia ao mofo, e sim da construção coerente do pensar Astrológico em torno dos estruturadores de suas bases. Se casas, aspectos, progressões , lunações , e direções primárias funcionam, e as utilizamos, quem as construiu ? Não seria no mínimo descuido de nossa parte deixar de estudá-los, ou sequer saber como enxergavam a Astrologia ? Afinal, como podemos entender o pensar astrológico sem este domínio mesmo que seja de superfície ?Alguns destes textos é o : “ Tetrabiblos “ de Cláudio Ptolomeo, para se entender o sentido e os fundamentos da Astrologia como ciência natural, o estudo das direções primárias já naquela época ( Aproximadamente 150 d.c. ) , e a Astrologia Mundial, entre outros tópicos. Não estudar isto , eqüivale a não ter lido “ República “ de Platão na filosofia, ou “ O capital “ de Marx em Sociologia.

Outros textos básicos são o “ De Caelo “ Aristóteles, e seu “ Metafísica “. O “ Timeu “ de Platão é fundamental para se entender o sentido original da Astrologia e seus fundamentos. Os estudos de Geografia e Astronomia do Geógrafo de Alexandria Eratóstenes não poderão deixar de ser considerados, bem como os do Astrônomo Eudoxo de Cnido.

Outros astrólogos que influenciaram séculos de pensamento podem ser igualmente importantes quando se quer entender o significado da Astrologia. Alguns títulos como o “ Astronomicon “ do poeta Marcus Manílius são referências importantes para se entender as futuras confusões que as pessoas faziam e fazem até hoje entre as constelações e Signos eclípticos por exemplo. ( Infelizmente alguns astrônomos também ).

Os estudos dos papiros de Letius Valens de horóscopos gregos por exemplo, podem ser encontrados em ricos e minuciosos comentários no “ Greek Horoscopes “ de Oto Neugebauer e Van Hoesen . Em torno de duzentos papiros são comentados, além de um extenso estudo de datação. Pode-se nesta obra por exemplo, perceber-se aspectos interpretativos que estão totalmente esquecidos nos dias de hoje. Não havia por exemplo, uma distinção entre mapa natal e planilha de previsões.

Um outro texto chave é o Caibalion que contém uma das mais importantes e ricas formas de se entender a cosmologia do Egito levada para Grécia. Nele, são discutidos as sete leis cosmológicas de Hermes-Thoth : O ritmo, a Vibração a polaridade , a causa e o efeito, o mentalismo ( antecipando as ciências cognitivas ), o princípio do gênero ( sem o qual não se entende a questão dos gêmeos em Astrologia ) e o princípio da correspondência, de onde saiu a expressão : “ O que está em baixo é análogo ao que está em cima “ .

O “ Corpus Herméticum “ atribuído a hermetistas gregos, traduzido do grego pelo astrólogo e filósofo Marcílio Ficino, ( Séc XV ) é outro texto que não pode deixar de ser estudado com atenção. Em um de seus capítulos, o efeito astrológico é discutido na ação dos “ Daimons “ , forças misteriosas que lembram muito as idéias do “ universo interligado “ da Física moderna.Outros autores interessantes são : Al Biruni, e seu “ O livro de Instruções dos elementos da Arte da Astrologia “ do Séc XI, os textos de São Thomas “ Suma contra os gentios “ e “ Suma Teológica “ onde o filósofo, discípulo de Alberto Magno um grande estudioso do Aristotelismo e da Tradição Hermética , discorre sobre a ação dos corpos celestes sobre o humano. Seus limites de efeito, a liberdade, e a defesa da Astrologia como ciência lícita entre os cristãos é apresentada com uma elegância singular.

Outros autores como Francis Bacon “ Teoria do Céu “, e a maravilhosa obra de Kepler : Harmonica Mundi , onde o Astrônomo e Astrólogo, invoca a profunda relação entre o as proporções do universo e as leis de ondulatória, relacionando a Astrologia com a Música de uma forma curiosa e inventiva. O “ Primum Móbile “ de Placidus de Titius , e o o “ Anima Astrologiae “ de Guido Bonatus podem compor uma sinfonia que ecoa do passado, como um reflexo vivo de mentes que se dedicavam ao estudo da Astrologia à mais de quatro ou cinco séculos atrás. Dentre estes, pode se destacar também o “ Chirstian Astrology “ de William Lilly, ( Sec XVII ) em um maravilhoso tratado ( Vide foto ) que apresenta desde as bases elementares da Astrologia, até o estudo das direções primárias. A obra de Lilly, repleta de uma astrologia árabe, apresenta-se em um inglês para lá de clássico, e em tipografia original.Entre os inúmeros textos antigos que coleciono e estudo, está a obra mestra de Morin de Villefranche : O Astrologia Gallica ( Astrologia da Gália antiga França ) em um único tomo, em latim de província . O pai da Astrologia Moderna discute todo o edifício da Astrologia desde os antigos, até seus contemporâneos. No tomo XXI “ Teoria das determinações, Morin expõe sua “ Astrosintesis “ técnica hoje conhecida como “ Dinâmica de Interpretação “ de mapas natais. O Tomo XXII “ Direções Primárias “ também traduzido para o Inglês, trata da questão das previsões. Este texto encadernado pesa com capa de couro e caixa de suporte, vinte e quatro quilos, e se poderia estudá-lo se levaria toda uma vida. Outros exemplares do “ Astrologia Gallica “ estão nas mãos do estudioso paulista “ José Maldonado “, professor de Física e Astrólogo e também o professor de Astrologia “ Raul Varela “.
No Rio de Janeiro, um fac-símile idêntico ao da foto, pertence ao acervo da “ Astrocientiae “ de propriedade do astrólogo Érico Vital Brasil, um grande incentivador da Astrologia Clássica no Rio de Janeiro.Louva-se também, o trabalho de tradução para o português do “ Minha vida perante os astros “ de Morin por Marcia Bernardo ( Diretora da escola Santista de Astrologia – SP ) , num curioso e divertido estudo de Morin sobre os métodos de previsões. São muitas as raridades, e seu campo tão vasto quanto as estrelas.
Todos os dias, novas publicações do alemão traduzidas para o Inglês e Francês de estudos cuneiformes nos revelam muito da Astrologia da Mesopotâmia e Babilônica, pré Gregas.Todo astrólogo que estudou seriamente acabou se tornando um arqueologista, ou um restaurador de conhecimento em Astrologia. Ler em línguas antigas , e outros idiomas é antes de fundamental, necessário. Cabe ao leitor se desejoso de se aprofundar na Astrologia comprar um bom livro de História da Astrologia, e daí, pacientemente ir colecionando por toda uma vida , livros ( Não só antigos obviamente ) de um saber tão antigo quanto a própria civilização.
Sky and Telescope 1995, october